sábado, 26 de junho de 2010

ORAÇÃO DA 7ª ROMARIA REGIONAL DA JUVENTUDE
PAI! Nós, romeiros/as da 7ª Romaria Regional da Juventude, te louvamos e te agradecemos pelo Jubileu de Prata da PJ que estamos celebrando no nosso Maranhão. Ao longo dessa caminhada temos procurado construir uma sociedade justa e fraterna, onde reine o amor, a solidariedade, o compromisso, a esperança... Espelhados/as em teu filho, Jesus Cristo, buscamos construir o teu Reino na utopia da Civilização do Amor. Que Ele caminhe conosco como caminhou com os discípulos de Emaús e nos faça arder os corações inflamados pelo seu Evangelho. Que teu Santo Espírito seja nosso farol, que ilumine nossos caminhos para que não tropecemos nas pedras da vida e não caiamos nos buracos da vida. Que ele ilumine nossas mentes para que aprendamos a discernir tua vontade em nossas vidas e que saibamos dar uma resposta segundo teus desígnos. Que Nossa Mãe, Maria Santíssima, seja nossa constante companheira pelas estradas da vida. Assim como ela acompanhou seu amado filho Jesus em toda sua trajetória de vida e missão, que também nos acompanhe e que nos ensine a sermos verdadeiros/ as discípulos/as missionários/ as de seu filho. E que chova todas as benção do céu sobre as nossas juventudes, em suas diversidades e realidades, em todo nosso Maranhão para que a nossa PJ construa outros mais 25 anos de histórias. Amém, Axé, Aleluia, Awerê, PJ! Pe Cristóvão e Glauber Leonardo

O Espírito Sopra Onde Quer

O ESPÍRITO SOPRA ONDE QUER Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Nas últimas décadas, um sopro do espírito varre a Igreja, seja do lado protestante seja do lado católico. Quando sopra o vento, nada e ninguém podem detê-lo. Ao mesmo tempo, ninguém pode-lhe permanecer neutro, indiferente. Vêem daí os prós e contras frente ao crescimento dos movimentos carismáticos ou pentecostais, tanto no catolicismo como no protestantismo.
Uns os batizam de espiritualismo intimista e privativo, estéril e ineficaz. Outros neles encontram a razão de ser para sua trajetória cristã, com a certeza de que, finalmente, puderam encontrar o caminho. Uns e outros reconhecem sua emergência e sua repercussão. Mas, enquanto para os primeiros tais movimentos tendem a evitar todo e qualquer compromisso social, para os segundos refletem uma experiência profunda de encontro com Cristo.
Onde está a verdade? Seria muita pretensão procurar separar o joio do trigo, para ficar na linguagem evangélica. Nesses embates, as linhas continuam indefinidas, os contornos não são precisos. Graças a Deus, a vida é muito mais dinâmica e imprevisível do que nossos esquemas mentais e gramaticais. “O bem o e mal, o certo e o errado, tudo é muito misturado”, diria Guimarães Rosa (Grande Sertão Veredas).
Apesar desse alerta, vale a pena tentar um olhar mais objetivo sobre esse “sopro do espírito”. De início, temos de reconhecer que estamos diante de uma realidade carregada de ambiguidades, mesmo porque pisamos um terreno sagrado. Neste, tudo se reveste de mistério, diante do qual não raro ficamos sem palavras! Diante da experiência e das expressões da fé, há limites claros para a razão humana.
Cientes do solo ambíguo em que avançamos, a primeira coisa que chama a atenção dos movimentos carismáticos é a mistura de riscos e potencialidades. Uns e outras se confundem, se mesclam e se entrelaçam. Ente os riscos, não é difícil surpreender uma leitura equivocada da realidade social e histórica. Como se esta fosse impulsionada por um determinismo secreto, onde a ação humana não tem qualquer possibilidade de mudança.
Sendo assim, e sendo essa realidade marcada pelas contradições em nível sociológico, e pelo pecado em nível teológico ou moral, o mais sensato não é tentar transformá-la, e sim fugir dela. Na impossibilidade de mudar os destinos do mundo e da humanidade, o melhor é escapar para outra dimensão. Resulta que, em não poucos casos, o pentecostalismo protestante ou católico se converte numa espécie de “barquinho de salvação” diante da sociedade imutável. “O mundo está perdido, mergulhado no pecado, mas eu encontrei Jesus”! O barquinho procura equilibrar-se no mar tempestuoso, muitas vezes ignorando as angústias de quem está sendo devorado pelas ondas gigantes da fome e da miséria, da injustiça e das desigualdades sociais, da violência e da discórdia. Mares bravios afogam pecadores e inocentes, mas os barquinhos seguem protegidos pelas bênçãos de Jesus.
Nu fundo inconsciente dessa leitura míope dos fatos históricos, esconde-se uma dicotomia que divide o mundo dos salvos, os que “encontraram Jesus”, e os perdidos que se recusam a tal encontro. Permanecendo na cegueira, sua condenação será inevitável. O estudo superficial da realidade conduz a uma prática marcada por ações paliativas, assistenciais, ou puramente religiosas. Não falta a sensibilidade e a caridade para com os menos favorecidos; falta o conceito de protagonismo dos pobres. O falso diagnóstico falsifica igualmente o remédio.
Passemos às potencialidades, as quais, repetimos, misturam-se inextrincavelmente aos riscos. Salta à vista, antes de tudo, o retorno da alegria à vivência cristã. É possível ser cristão, alegre e feliz! Esse aspecto reveste de vida nova a liturgia, a prática e todas as demais expressões religiosas. Revela um ingrediente muito comum na cultura latino-americana, em geral, e brasileira, em particular. Tempera o vinho novo de novas manifestações. Com isso, aprendemos que não é só a mente ou a inteligência que se comunica com Deus. Todo o corpo reza, celebra e festeja! Rompe-se com um racionalismo frio e calculista, às vezes demasiadamente politizado, que impregnava a prática cristã de cunho mais profético. Dá-se importância ao gesto, à imagem, ao canto, ao simbolismo, enfim, a uma linguagem coreograficamente mais vívida e rica. As atividades religiosas ganham em vigor e alegria. A festa entra na Igreja. Às vezes em detrimento da profecia, é bem verdade, mas não podemos deixar de reconhecer esse lado expansivo que, por outro lado, faz-se presente em grande parte das expressões religiosas negras e indígenas, berço comum de nossa cultura miscigenada.
Além disso, não dá para negar a experiência religiosa de inúmeras pessoas que insistem ter “encontrado Jesus” e, de fato, mudaram o rumo de suas vidas. Não poucas superaram vícios e consertaram desavenças inconciliáveis. O que há por trás disso? Independentemente do que fazem os dirigentes religiosos diante de tais testemunhos, permanece inegável uma experiência profunda, verdadeira, por vezes indecifrável para os próprios sujeitos que a vivenciaram. Impossível tanta gente se enganar por tanto tempo. Impossível estar diante de uma mentira colossal e coletiva!
Não há o que duvidar: um sopro do espírito modificou suas existências. Há manipulação, há exploração do sagrado, há mercantilização da fé. Há exageros de curas e de “falar em línguas”! Nada disso, porém, elimina os que os fiéis chamam de “encontro com Jesus” e “mudança de vida”.
Como todo sopro do espírito, também esse incomoda e interpela a instituição. Causa um clima de estranheza e rivalidade entre as igrejas estabelecidas e as estruturas voláteis dos movimentos autônomos ou carismáticos. Estes costumam caminhar acima ou paralelamente ao “plano diocesano”, o qual, por sua vez, nem sempre lhe abre as portas ou lhe dá espaço. Mas convém não esquecer que “o espírito sopra onde quer” (Jo, 3, 8), a irrupção de Deus na história é imprevisível e não respeita fronteiras. Nenhuma Igreja pode represar as forças do vento nem manter o monopólio da manifestação do espírito divino.
Sobram dois desafios. Por um lado, reconhecer e respeitar o sopro do espírito, em que muita gente se sente reconciliada com a própria fé e com a própria vida; por outro, saber discernir o que é espetáculo, show ou manipulação, do que é obra de Deus. E aprender com Gamaliel que não se pode “mover guerra contra Deus” (At 5, 34-39).

Visita de Lula ao Pará

Nota sobre a visita de Lula ao Pará Surdo, cego e displicente
Um forte aparato de repressão, composto pela Força Nacional, pela Tropa de Choque e pela Polícia Militar, impediu que o protesto de cerca de 400 ribeirinhos, pequenos agricultores, estudantes e professores contra a hidrelétrica de Belo Monte chegasse ao presidente Lula esta semana, em Altamira (PA).
O representante do Governo Federal, Geraldo Magela (colaborador do ministro Luis Dulci, da Secretaria Geral da Presidência), esteve à frente das forças policiais que bloquearam o acesso dos manifestantes ao Estádio onde Lula falou à população. Lideranças sociais foram fichadas, houve revista pessoal e apreensão de faixas ou qualquer material contrário a Belo Monte.
Não bastassem serem impedidos de levar suas demandas ao presidente, os ameaçados pela usina foram publicamente humilhados, chamados de meninos, ignorantes. Procurando comparar-se a eles, Lula afirmou que, em sua juventude, acreditou em disparates como terremotos, mudança do clima ou do eixo do planeta, causados pela hidrelétrica de Itaipu. “Se eles [os manifestantes] tivessem paciência para ouvir”, disse Lula... Se ele tivesse essa paciência, saberia que os medos da população do Xingu não são fantasiosos. São medos reais de quem está ameaçado pela destruição de seu lar, de seu modo de vida, de suas fontes de sobrevivência, e de toda a imensurável beleza que faz a vida valer a pena no Xingu.
Cegado pela displicência, o presidente não viu que os rostos dos que tentaram se fazer ouvir eram morenos, brancos, negros, vincados e queimados de sol, e suados com o calor que tanto o incomodou. Não eram “gringos”, como disse Lula na sua próxima parada, em Marabá.
“Nós precisamos mostrar ao mundo que ninguém mais do que nós quer cuidar da nossa floresta”, disse Lula. Nós? O governo, que faz as obras que destroem e atraem a destruição das matas? Não, somos nós os que sabemos cuidar da floresta, aqueles que estamos tentando nos fazer ouvir desesperadamente. Somos os que historicamente cuidamos da natureza, porque ela é tudo que temos.
Lula falou em R$ 4 bilhões “para cuidar do povo ribeirinho”. Isto deve nos alegrar? Deve pagar a destruição de nossas vidas, e das vidas das futuras gerações? Devemos comemorar e nos calar?
Esta semana no Pará, houve espaço para uma só voz, arrogante, displicente e prepotente. Lula, o governo federal e o governo estadual, que até hoje não se dignaram a ouvir os apelos dos ameaçados por Belo Monte, novamente ignoraram e deram as costas aos ribeirinhos, agricultores e moradores das palafitas de Altamira, e aos seus medos e sonhos. Novamente, a despeito da expectativa e da ansiedade de serem ouvidos, estes cidadãos tiveram a porta batida em suas caras.
Altamira, 23 de junho de 2010.
Movimento Xingu Vivo para Sempre, Via Campesina (MAB, CIMI, CPT, PJR, FEAB, ABEEF), MMCC, UJS, Consulta Popular, DA-UFPA, PJ, SINTEPP, Movimento Negro - CFNTX, Pastoral da Criança, Fórum Popular, SOS Vida

Encruzilhada da Vida Religiosa

ENCRUZILHADA DA VIDA RELIGIOSA
Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
O mundo da pós-modernidade, se quisermos adotar esta linha de pensamento, vem acompanhado de um intenso “rumor de anjos” (Peter Berger). Rumor que, apesar do barulho das máquinas, da revolução informática e da proliferação de sons e imagens, se ergue cada vez mais forte. Em não poucos casos, chega a ser estridente, espetacular, quase cinematográfico. Em palavras mais simples, os deuses estão de volta. Retornam com a energia de águas represadas, com a mesma força com que foram banidos no decorrer dos “tempos modernos”.
Deuses no plural, o que procura dar conta da diversidade de expressões religiosas que caracteriza tal sociedades atual. Com efeito, o pluralismo cultural e religioso constitui um dos aspectos predominantes da “condição pós-moderna” (Lyotard). Os deuses estão nas ruas, nas páginas e espaços da mídia, em muitos títulos dos livros de publicação recente, na arquitetura dos grandes centros comerciais. Divindades para todos os gostos e sabores, todas as inquietações e ideologias. Deuses conhecidos, demasiadamente conhecidos, o que os torna também manipuláveis. Mais do que o secularismo, o que preocupa a América Latina e o Caribe, bem como cada um de seus países, não é tanto a falta de deuses, mas o excesso. Neste imenso areópago moderno ou pós-moderno, o grande desafio é identificar os traços do “Deus desconhecido” de Paulo em Atenas, mistério que, a um só tempo, se revela e se oculta.
Talvez o retorno da dimensão transcendente, em pleno contexto materialista, individualizado e tecnológico, se deva aos sintomas de anomia, à falta de referências, ao relativismo e à fragmentação tão presentes no universo urbano. As certezas foram substituídas pelas dúvidas, as verdades por novas interrogações e as perguntas se tornaram maiores que nossa capacidade de encontrar resposta. Parafraseando Simone de Beauvoir, as estrelas se apagaram no céu, os marcos desapareceram da estrada e o chão fugiu debaixo dos pés. Medos e angústias, temores e tremores, insegurança e instabilidade configuram uma falta de sentido que toma conta da “multidão solitária” (David Riesman). Uma espécie de vertigem em que, ao caminhar, parecemos nos equilibrar numa corda bamba sobre um abismo sem fundo, um novo “mal estar da civilização”, para usar a expressão cunhada por Freud.
Crise e encruzilhada
Crise costuma ser a palavra adequada para definir esse cenário preocupante. Mas toda crise tem dupla face: queda e superação. Em seu lado negativo, tendemos a ser conduzidos ao berço, ao saudosismo de um passado idealizado e até, morbidamente, ao colo da mãe; em seu lado positivo, tenta-se superar a inércia e avançar para a fronteira. Neste caso, ao invés de prostrar e deprimir, a crise desinstala e interpela, engendrando a coragem de fazer novas perguntas. Melhor dizendo, num primeiro momento, a crise pode, sim, nos levar ao berço aconchegante. Mas, em seguida, depura e tempera o ânimo dos mais destemidos para os novos desafios que a história levanta. É assim que, tomando a metáfora de Guimarães Rosa, no pranto e na coragem, cada crise tende a abrir novas veredas no grande sertão da vida humana, como também na Vida Religiosa. Nascer e crescer só é possível através da dor.
Este segundo momento da crise pode ser entendido com a noção de encruzilhada. Esta noção, como sabemos, pressupõe dois aspectos complementares e característicos da complexidade dos tempos atuais: bifurcação de caminhos, por uma parte, necessidade de opção, por outra. No cenário da Vida Religiosa hodierna, esses dois aspectos estão presentes e entrelaçados como nunca. A bifurcação de caminhos se manifesta nas novas formas de vida consagrada. Em termos mais ortodoxos de fechamento e isolamento, há os que procuram se proteger frente aos “perigos da vida moderna”; em termos da busca de um testemunho simultaneamente mais autêntico e mais visível, especialmente nos lugares mais sórdidos do meio urbano, há os que remontam a experiências do passado, tentando adotá-las sem uma devida transposição cultural.
Já a opção entre os vários caminhos da encruzilhada torna-se cada vez mais difícil e laboriosa. Diante de uma sociedade crescentemente apelativa, permissiva e agressiva, o discernimento criterioso é quase um milagre. A força persuasiva do marketing e da publicidade estimula os desejos, insinua as escolhas, impõe os gostos. As manifestações do sagrado em geral e da Vida Consagrada em particular não estão imunes ao império e à sedução da propaganda. O fascínio dos modismos entra pelas brechas de nossas comunidades religiosas, como o pó invisível da poluição penetra pelas portas e janelas mais cerradas. As mesmas contradições que dilaceram o tecido social também dilaceram as diferentes organizações da Igreja. Esta nunca foi e nunca será uma “arca de Noé” ao abrigo da tormenta ou das vitrines profusamente iluminadas da “sociedade do espetáculo” (Guy Debord).
Se admitimos que a Vida Religiosa, atualmente, “geme e sofre as dores de parto” (Rm 8, 22) e que a crise já nos está levando à encruzilhada, então é hora de colocar-nos corajosamente na confluência dos caminhos, e aí fazer as perguntas certas, digerir e enfrentar suas dúvidas. Só assim será possível amadurecer a tarefa do discernimento e das novas opções. Basta de lamentar e de acariciar mágoas e culpas como se fossem animais de estimação! É hora de agir, de avançar em direção à fronteira! Por outro lado, essa tarefa lenta e difícil das escolhas não ocorre fora do contexto mais amplo da mudança de paradigma, nem fora de uma situação socioeconômica e político-cultural cada vez mais complexa.
Crise e encruzilhada tendem a nos desnudar diante do espelho. Tende também a um olhar retrospectivo. Não um olhar de retrocesso ou o andar de caranguejo, mas uma consulta à trajetória histórica, em vista de avanços que, em meio à bifurcação, nos permitam novas opções, ao mesmo tempo criteriosas e ousadas. Numa palavra, um olhar ao retrovisor que nos faça extrair as pérolas ocultas na memória de nossas ordens, congregações e institutos, nos revista de humildade para aprender com a sabedoria dos antepassados, e em seguida nos dê a segurança suficiente para acelerar o ritmo de nossos projetos e de nossos passos.
Beber das próprias fontes
Em termos de Vida Religiosa, olhar o espelho é voltar às raízes, beber das fontes originárias. Na origem, a água é mais fresca e cristalina, mais apta a matar a sede. Reforça o alento para seguir o caminho, por mais longo e íngreme que seja. No conjunto da vida consagrada, três fontes são indispensáveis, primordiais e inegociáveis: a Palavra de Deus, concentrada no evento Jesus Cristo, como fonte geral; o carisma de cada ordem, Congregação ou Instituto, como fonte específica; o clamor dos oprimidos como fidelidade à opção evangélica pelos pobres.
No caso da primeira fonte, Jesus que “passou pelo mundo fazendo o bem” (At 10,38) revela não apenas a face oculta do Pai. Revela também as potencialidades mais profundas e às vezes adormecidas no interior de cada ser humano. Em verdade, este foi “programado” em sua natureza para uma constante superação de si mesmo, até atingir a dimensão do encontro com o divino. “De Deus viemos e não descansaremos enquanto não voltarmos para Ele”, recorda Santo Agostinho. “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28).
O seguimento de Jesus Cristo, na Vida Religiosa, é a expressão máxima dessa contínua superação. Semelhante caminho requer, entre outras coisas, a kenosis de que nos fala o apóstolo Paulo (Fl 2,6-11). O que significa a humildade de admitir e tentar vencer as próprias fraquezas e limitações, caminho que somente é possível com uma abertura transparente à graça de Deus e à luz do Espírito. Carregamos o tesouro em vasos de barro e sabemos, ainda com Paulo, que na fraqueza é então que sou forte. Em poucas palavras, o seguimento exige cultivo de uma intimidade prolongada e persistente com o Deus de Jesus Cristo, o inefável “Abba” da montanha.
A segunda fonte nos leva a retomar a herança dos respectivos fundadores ou fundadoras. A leitura da palavra de Deus concretiza-se num rosto e/ou numa situação específica da condição de vida dos pobres. Aqui, imitar não é a melhor forma de seguir. Ao contrário, pode levar a uma inconsciente traição das necessidades prementes da realidade. Seguir é recriar o espírito do carisma frente aos desafios de hoje. A expressão já consolidada da fidelidade criativa exige, por um lado, o aprofundar-se na espiritualidade originária e, por outro, a ousadia de atualizar constantemente o carisma em meio às “mudanças rápidas e profundas” (Gaudium st Spes, nº 4). Nem precisa acrescentar que a vivência do carisma é indissociável da vida comunitária e fraterna, do querer-se bem em meio a uma sociedade que prega o culto do “eu”, da personalidade, da celebridade, do individualismo exacerbado. Trata-se de reproduzir o ambiente da casa/família das primeiras comunidades cristãs
Por fim, e não por último, o clamor dos pobres será sempre nosso juiz histórico. É a partir do que fazemos ou deixamos de fazer diante dos indefesos, que a Vida Religiosa ganha sua razão de ser. Nada disso constitui novidade. Basta reler o capítulo 25 do Evangelho de Mateus, o episódio do Bom Samaritano, os dois retratos do cristianismo primitivo nos Atos dos Apóstolos (2,42-47; 4,32-35), entre tantos outros textos. Nossos votos de pobreza, castidade e obediência, longe de representar uma castração, nos tornam mais ricos da graça de Deus, mais fecundos nas relações humanas e mais livres no projeto do Reino.
O contato com a vida ameaçada dos excluídos, a corajosa descida aos infernos do sofrimento humano, a inserção as favelas e periferias, nas ruas e porões da sociedade, nas prisões e assentamentos, nas comunidades indígenas ou afro-brasileiras... Tudo isso concretiza a opção preferencial pelos pobres, que não significa uma predileção pelos “bons”, e sim a compaixão evangélica pelas vítimas da história. Nesses “infernos humanos” é que se revela o rosto misericordioso do Pai. A intimidade com Deus na montanha e a vida fraterna na casa se complementam com a permanente abertura aos caminhos da história.
O que nos manterá de pé como religiosos e religiosas não são os títulos, as contas bancárias, o prestígio, o profissionalismo, as ideologias, a capacidade de produzir, fazer e aparecer, ou sei lá mais o quê! Neste momento de crise-encruzilhada, o segredo é voltar os olhos para a montanha, a casa/família e o caminho. São as três dimensões que nutrem nossa fé e nossa esperança, para fortalecer nossa caridade solidária. Os únicos poços que podem matar nossa sede. Ou buscamos esses poços de sabedoria ou perecemos como mulheres e homens mal consagrados. O vendaval e os modismos da pós-modernidade rugem furiosamente em nossas janelas, uma avalanche de objetos nos fascina pela telinha da TV, o ativismo nos seduz, mas “uma só coisa é necessária”, diz o Mestre (Lc 10, 38-42).
Esperar contra toda esperança
Encruzilhada não é lugar de buscar respostas fáceis e imediatas para perguntas complexas. É lugar de parar e silenciar, escutar e compreender, “guardar e meditar sobre todas essas coisas em seu coração”, como fazia Maria (Lc 2, 19. 51). Só o silêncio e a escuta serão capazes de engendrar palavras novas e criativas para os desafios da história. É mais fácil continuar caminhando velozmente do que deter os passos para, diante da bifurcação de caminhos, estudar a melhor forma de prosseguir. “Vinde vós, sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco...” (Mc 6, 31). Em momentos como este, a tentação é de deixar-se arrastar pela voracidade dos critérios capitalistas de produtivismo e consumismo. Ou seja, tenta-se encobrir a apatia visível por uma atividade alucinada, que oculta o aparente vazio de nossas existências e impede uma reflexão mais profunda. Com isso, não raro, os critérios do sistema capitalista passam a orientar também a prática pastoral e libertadora.
Quando somos impelidos, como máquinas, por esse ritmo avassalador, que é também devastador da natureza, dos outros e de nós mesmos, é hora de ouvir a suave melodia do salmista: “fiz calar e sossegar a minha alma; ela está em grande paz dentro de mim, como a criança bem tranqüila, amamentada, no regaço acolhedor de sua mãe” (Sl 130). O que não significa passividade e indiferença diante do sofrimento alheio, mas uma atividade que se sabe limitada e que, por isso, permanece constantemente aberta à ação do Espírito na história. Faço o que está ao meu alcance, mas a obra é de Deus. Ainda que eu me equivoque, Ele saberá como orientar meus atos. “É um retiro da praticidade para salvar a praticidade”, diz com razão Bernard Lonergan (Insight).
Significa, no fundo, colocar-se inteiramente à disposição do Espírito, focalizando todas as energias no protagonismo histórico dos pobres. Cientes, porém, de que toda a ordem social e todo o projeto humano são limitados e provisórios. O Reino de Deus não cabe em nenhum partido, em nenhuma organização social, em nenhuma formação econômica ou política, nem sequer nas fronteiras estreitas da Igreja, “santa e pecadora”, como lembra a liturgia.
Em meio às atividades do dia-a-dia, deixar espaço para a irrupção de Deus na história, para as surpresas do espírito que “sopra onde quer” (Jo, 3, 8). Quantas vezes tentamos manipular a novidade de sua presença na vida de cada ser humano e na vida da humanidade! A crise-encruzilhada traz uma nova sabedoria: acreditar não tanto na colheita visível, imediata e espetacular. No mundo atual somos facilmente levados a isso pelo apelo da moda e de suas exigências, pelo “império do efêmero” (Gilles Lipovetsky). Difícil é “esperar contra toda a esperança” (Rm 4,18): crer na semente que matura no silêncio escuro da terra e que, antes de buscar o sol, mergulha as raízes no solo úmido pelas lágrimas da dor e do sofrimento.
São Paulo, 17 de junho de 2010
JOSÉ SARAMAGO
Partiu o sábio, o lutador, o poeta, O velho guerreiro, o profeta; Morreu como tudo que é eterno, Das letras, incansável atleta.
Partiu o artista da palavra solta Do verbo escorregadio e desregrado Porque a vida transborda da gramática Não cabe no discurso estreito e pontuado.
Como o lavrador de mãos calejadas, Do chão levantou idéias e livros Quentes e vibrantes, sóbrios e vivos, Povoados de personagens amadas.
Seus parágrafos nas asas do vento Longos de corpo, coração e de alma; Carregados de beleza e sentimento, De quem tem pressa, sem perder a calma.
Memória viva de uma teimosia, Parte para engrandecer a trajetória, O suor e a lida, a força e a resistência, De quem da terra ergue a história.
A um tempo terno, ousado e sério Do ser humano conheceu o mistério Dele destilou lutas, dores e temores, Sonhos e esperanças, beijos e amores.
Deixou páginas que são retratos, De desenhos vivos e cores fortes, Duro na crítica, simples no trato, Legado sobre que nada pode a morte.
Obras que mais parecem esculturas De silêncio, gemidos e gritos feitas; Sinfonia livre que dispensa partitura, Dos Silva ou Teixeira, Souza ou Freitas.
Metáforas imprevistas e inéditas, Deixou-nos como arte e ciência; No longo percurso da existência, Suas herança jamais será pretérita.
Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS São Paulo 20 de junho de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

1º Festival Nacional de Música e Poesia

As cortinas estão se abrindo... É chegado o momento!!
O 1° Festival Nacional de Música e Poesia - "A Cor da Juventude" - promovido pela Pastoral da Juventude está no ar. Prepare seu coração,seus instrumentos e inspiração e venha fazer parte deste balaio de sonhos. Visite o site oficial do Festival e saiba como participar
http://www.acordajuventude.com.br/
Pode participar qualquer pessoa, seja de grupo de jovens, banda individual, de qualquer idade e crença, que abracem a causa do direito à vida da juventude. Esse grande sarau pretende reunir poesia e música das juventudes de todo nosso país, abordando à vida dos/das jovens, suas conquistas, suas dificuldades, suas bandeiras de luta, tendo como tema: “Chega de violência e extermínio de Jovens” Que possamos chegar a todos os cantos do Brasil, envolvendo o maior número de pessoas, pois é com a Bandeira da ´Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens´ que queremos dizer SIM à vida. Então, reúna as pessoas, crie, grave o seu vídeo com a execução de sua música ou recitando sua poesia e nos envie. Sonhamos, queremos e estamos construindo a Civilização do Amor com mãos jovens. Informações: faleconosco@acordajuventude. com.br “Venha e traga utopia, alegria, Sorriso nos lábios. No balaio de sonhos Tantos rostos, tantas cores, Tantas mãos, Eu também digo NÃO à violência.”

Jovens de São Luís rezam Ofício Divino dos/as Mártires em memória do Pe. Gisley Azevedo Gomes

Jovens de São Luís (MA) rezaram na noite do dia 15 de junho o Ofício Divino dos Mártires em memória pelo 1º ano da Páscoa do Pe. Gisley Azevedo Gomes, assassinado no dia 15 de junho de 2009 em Brazlândia (DF). O Ofício aconteceu no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora dos Remédios e reuniu jovens das paróquias, da assessoria e coordenação arquidiocesana, além do assessor regional da PJ Pe. Cristóvão Primo.
Essa foi a forma que os/as jovens encontraram de fazer memória da vida e da caminhada e ao mesmo tempo homenagear este que foi um grande padre, assessor, companheiro, irmão de fé e de caminhada e um dos grandes impulsionadores da Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens. À medida que fazíamos memória do Pe. Gisley refletíamos sobre a necessidade de assumirmos seu exemplo de compromisso com a defesa da vida da juventude, nos alegrávamos com a certeza de que “A vida dos justos, ao contrário, está nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá”, como diz a leitura refletida no Ofício (Sb 3, 1-9) e nos enchíamos de esperança no Deus da Vida, pois como diz o refrão: “A morte já não mata, não mata mais a morte. Do chão banhado em sangue, a flor brota mais forte”.
Joilson Costa Equipe Arquidiocesana de Assessores/as da PJ

sábado, 19 de junho de 2010

Dobradinha PT e arney

DOBRADINHA PT E SARNEY Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Uma das provas mais estridentes de que o Partido dos Trabalhadores deu as costas ao berço em que nasceu é a dobradinha estabelecida com a oligarquia Sarney. Dobradinha que já criou sérios constrangimentos no palco e bastidores do Senado, e agora atropela a trajetória natural do PT no estado do Maranhão. O Planalto e a direção do partido empurraram goela abaixo a aliança com a candidatura Roseana Sarney ao governo daquele estado. Entre as manifestações contrárias, está em curso até greve de fome por figuras historicamente representativas do PT.
Não é novidade para ninguém que o Partido dos Trabalhadores surgiu como um rio de águas caudalosas no início da década de 1980, formado por uma grande variedade de igarapés. Só para não esquecer, seus principais afluentes se originaram no sindicalismo combativo, nos movimentos sociais, nas Comunidades Eclesiais de Base e sua Teologia da Libertação, nas organizações estudantis acompanhadas de grandes intelectuais ligados ao universo acadêmico, entre outros setores da sociedade.
Embora com linhas de contorno indefinido, vinha se desenhando o que se poderia chamar Projeto Popular para o Brasil. Projeto que, vale lembrar, tem raízes históricas nas lutas indígenas, negras e populares ao longo dos séculos, mas ganha certo esboço nos anos de 1950-60, com uma série de iniciativas por todo território nacional, tais como as Ligas camponesas, a educação Paulo Freire, o movimento das universidades, e assim por diante. O golpe militar de 1964 decepa-lhe a cabeça e impõe a consolidação do projeto liberal ou neoliberal.
O Projeto Popular irá despontar novamente no decorrer dos anos 1970, alargando suas margens nas duas décadas seguintes. A iniciativa das Semanas Sociais Brasileiras, com um grande leque de eventos, atividades e parceiros, o batizará com a expressão “Brasil que queremos”. Os movimentos, pastorais e organizações sociais se fortalecem individualmente, passando logo a estabelecer uma rede de promoções conjuntas, que acabam culminando nos plebiscitos populares contra o pagamento dos juros e serviços da dívida externa, contra a implantação da ALCA e contra a privatização da Companhia da Vale do Rio Doce.
Neste contexto, a candidatura do Lula não cai de pára-quedas, não é um meteoro que aparece do nada. Tem raízes profundas nos vários afluentes do rio formado pelas esquerdas brasileiras. Tanto que, nos anos 1980-90, trava-se uma batalha política entre o Projeto Popular e o Projeto Neoliberal, este representado por José Sarney, como vice vitorioso de Tancredo Neves, e por Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso, aquele impulsionando pela avalanche das organizações sociais.
Quando ganha as eleições presidenciais em 2002 e assume o poder, o Partido dos Trabalhadores, especialmente na figura do Presidente da República, começa a dar as costas às forças sociais que o haviam elegido. A meu ver, três razões o explicam: primeiramente, a famigerada carta endereçada ao povo brasileiro, mas na verdade dirigida ao mercado financeiro nacional e internacional, como garantia de continuidade; em segundo lugar, a costura de uma aliança pela governabilidade, que incluirá os setores mais retrógrados e avessos a mudanças na trajetória do país; por fim, a discrepância flagrante entre as expectativas levantadas em torno da eleição de um migrante-operário-metalúrgico, de um lado, e a fragilidade efetiva das organizações populares, de outro.
A dobradinha entre PT e Sarney, no processo eleitoral de 2010, não faz senão confirmar essa opção política. Aqui não está em análise a pessoa e as intenções, boas ou más, do Presidente Lula. A avaliação procura tomar em conta as peças de um xadrez histórico muito mais amplo e complexo da política brasileira. Nesta, a manutenção dos privilégios garantidos aos representantes do andar de cima costumam ser constantes e intocáveis, ao passo que os favores oferecidos aos moradores do andar de baixo são sempre incertos e variáveis. Enquanto uns estão afiançados pela força da lei, os outros subordinam-se ao humor do chefe de plantão.
Caso os movimentos e lutas populares tentem ameaçar os privilégios das classes dominantes, ou transformar em direitos os favores da população de baixa renda, a resposta histórica tem sido o chicote, o tronco, a polícia, o exército... Numa palavra, a repressão! Os detentores do poder e da riqueza sabem afiar as unhas e arreganhar os dentes quando as massas se levantam diante de suas terras, de suas mansões ou de suas contas bancárias no exterior.
Resulta que, irônica e paradoxalmente, um partido engendrado nos meios populares é hoje chamado a administrar a crise e superação do modelo neoliberal. E a democracia brasileira, da mesma forma que a de outros países, pouco faz além de sacralizar esse estado de coisas. As urnas e seus votos constituem a benção legal de uma ordem injusta, ilegítima e estruturalmente assimétrica. Vota-se não por mudanças substanciais, e sim pela estabilidade do status quo e por algumas migalhas do bolo.